quinta-feira, 16 de março de 2017
16. LEMBRA?
Tanto mais dói a fome a espera se alonga,
vazando formigas pelos cotovelos,
crescendo urtigas nos quintais abandonados,
onde farejam gatos no cio.
Tanto mais eu desejo o corpo simulacro,
fatiado em pedaços de lenho e pedra,
ouço cantar a voz do tempo
no corredor vazio da esperança decepada.
Lembra da mão entrelaçada mentindo
e milhões de cobras parindo no rio de lama,
o sol resvalando sobre árvores inconclusas.
Lembra que eu fui menino com medo
de ser devorado pela morte das araucárias
e fugi para dentro da noite sem janelas.
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