quinta-feira, 16 de março de 2017

18. GURUPIÚNA




Essa espera de rio na curva das manhãs
carrega nos ombros o sino da catedral da fome.
Um soluço de peixe no piscar de olhos
divide as horas mornas dos mosquitos.

Vou embora pisando nos pés doloridos,
lamentando a hecatombe das unhas pretas,
cantando baixinho a toada fúnebre dos tucanos.

O rio me observa grunhindo ao largo,
na estreita passagem das correntezas impuras,
onde árvores de raízes podres tombam.

Essa espera de rio, me faz pensar na estação do bronze
crucificado no céu e em nuvens de borboletas amarelas
ao redor do meu corpo suado.

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