domingo, 26 de março de 2017

19. CÉU IMPUNE

Não vamos falar de coisas tristes na hora de partir,

apenas olhe como é medonho o silêncio que sai de mim,

lembrando a chuva nos arroios e o tatalar de asas no vácuo,

a minha fala presa em alguma raiz no fundo.


Não me diga nada, se puder...

Já me bastam os prisioneiros do meu cárcere imundo,

clamando por mim com as mãos gangrenadas,

lembrando a dor de não sentir absolutamente nada.


Melhor seria baixar os olhos,

antes que o medo se aproxime, com a boca manietada,

e o lampião exploda a verdade no quarto escuro.


Não falaremos de coisas tristes hoje,

sem força para olhar no alto da tresloucada via láctea,

apenas sentiremos a presença das estrelas no céu de labirinto

e o rugir dos ventos na longínqua fúria do jaguar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário