domingo, 26 de março de 2017

18. PROFANAÇÃO


Longo murmurar dos vinhedos causticantes
assombram as mulas do destino cansadas
e roubam o sono de almas penadas
no estio noturno dos bichos claudicantes.

Dentes de cristal fazem tremer arvoredos,

Lua de prata ilumina cemitérios de meninos,
uivos órfãos fazem badalar os sinos
e trombetas ocas soam tristes arremedos.

Vou chegando a esmo na montaria cega,

varando a escuridão rubra dos girassóis mortos,
exalando o etílico bafo de mil sentinelas.

Chegarei recitando versos de poetas alados e banidos,

para o espanto soturno de milhões de morcegos peregrinos,
ao tempo em que adormeço ao coro dos anjos de bronze.






17.


sexta-feira, 3 de março de 2017

13.





12. TEMPO DO MILHO




O tempo do milho chega encharcado,
disputando espaço com ervas daninhas,
enfileirando penachos dourados,
que depois escurecem ressequidos.

É o tempo da relva verde e dos campos cheios,
dos cofos repletos de peixes pretos,
das armadilhas de nomes estranhos,
landroá, choque, jiqui ...

Os meninos correm empanturrados
de manga
de pequi
de bacuri
de jaca
                             com farinha



As mutucas insistentes
as muriçocas estridentes
os mosquitos renitentes
os maruins persistentes

Povoam a floresta
invadem as casas
forçam os bichos a adentrar na água
para esfriar o couro fervendo de picadas.

Chove no tempo do milho.
Uma chuva de trégua miúda,
tamborilando no telhado,
encrespando o frio nas redes noturnas.

Os papagaios e os periquitos revoam ao longe,
esperando a hora de atacar o milho.

Milho verde, milho maduro,
milho cozido, milho assado,
canjica e pamonha...