sábado, 12 de janeiro de 2019

72. LEMBRANÇA XXX

Brotavam flores da terra crua do sertão,
no horizonte era  tudo espinho, áspero e duro,
tardava o passo o croatá, espalhado pelo chão,
e de noite estrelas pontilhavam no céu escuro.

Eu ouvia a cigarra e a coã no pau seco
chamando a chuva que não tardava e caía.
Tudo ficava verde, o igapó se refazia,
o berro do bugio contente fazia eco.

O peixe na fogueira, a nuvem de fumaça,
meu pai na rede, não tinha medo de nada,
dormia ao lado do desespero e da ameaça.

Memória do infante que chora a mágoa triste
- com o rosto frio colado na vidraça -
da lembrança de um tempo que não mais existe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário