domingo, 30 de abril de 2017

32. HALOPERIDOL



Um dia tudo apaga.


E nada vai importar ao redor, apenas estranhos ruídos no quarto.

Fantasmas escondidos em algum porão da mente,

correntes que se arrastam sozinhas no corredor.



As coisas estão se apagando,

um menino roto está limpando a janela do tempo,

e lá fora podemos ver a chuva, respingando a vidraça.


Queria poder demorar mais a infância

ver os pássaros antes que a noite chegue,

comentar o último gibi das bancas, 

mas você apagou antes das cortinas baixarem.


Queria tua mão, mas agora é tarde,

porque ela se fechou definitivamente,

incapaz de sentir o calor da ternura, a firmeza do gesto.


Na mesa, não posso mais te encarar a mesma face,

não posso mais ver o riso aéreo pedindo socorro,

refletido na louça do prato vazio, sem espanto,

e eu pensando como poderia ser diferente.





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