domingo, 23 de abril de 2017

26. NOITE


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Temo por mim só de noite,
porque sei que a falta será um  balaço;
O aperto da cobra no pulmão,
o estertor no fundo das águas.

À noite lembro dele com mais força,
me conduzindo pela mão
nos caminhos de altíssimas árvores.

Eu fui menos do que ele,
não vi de perto os gigantes assassinos,
nem enfrentei os cães que dilaceram
úlceras carnes.

À noite ele balbucia coisas sem sentido
para os outros,
mas eu entendo a língua do sopro,
a gagueira zonza dos xamãs de pedra.

Cada palavra balbuciada de saliva e delírio
me faz calar asas sobre o abismo,
na torção geriátrica da boca
vaticinando o fim.

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