domingo, 30 de abril de 2017
30. HALOPERIDOL
Um dia tudo apaga.
E nada vai importar ao redor, apenas estranhos ruídos no quarto.
Fantasmas escondidos em algum porão da mente,
correntes que se arrastam sozinhas no corredor.
As coisas estão se apagando,
um menino roto está limpando a janela do tempo,
e lá fora podemos ver a chuva, respingando a vidraça.
Queria poder demorar mais a infância
ver os pássaros antes que a noite chegue,
comentar o último gibi das bancas,
mas você apagou antes das cortinas baixarem.
Queria tua mão, mas agora é tarde,
porque ela se fechou definitivamente,
incapaz de sentir o calor da ternura, a firmeza do gesto.
Na mesa, não posso mais te encarar a mesma face,
não posso mais ver o riso aéreo pedindo socorro,
refletido na louça do prato vazio, sem espanto,
e eu pensando como poderia ser diferente.
terça-feira, 25 de abril de 2017
domingo, 23 de abril de 2017
28. QUANDO TODOS DORMEM
Enquanto todos ressonam
eu vigio o sono do meu herói.
Cada minuto que eu me despeço,
é esperança de mais um dia,
o rebento de uma planta.
Ele se agita, embalado por drogas
que percorrem as veias.
Conversando sobre uma juventude distante,
cada espanto se desfaz nas águas,
e não há delírio sem a resposta da ternura,
onde o fio dos dois destino se atam.
25. CORRENTES
Eu sei que estou atado a ele
na corrente do passado.
Posso ler na sua face
a minha futura demência,
o meu encanto pavoroso
por silêncio e labirinto.
Ele engasga e treme,
como um pardal no ninho.
Estamos presos no mesmo poste de linchamento,
ouvindo rezas, bater de janelas, escápulas rangendo...
Cada palavra torta soa como pedra
na corrente do passado.
Posso ler na sua face
a minha futura demência,
o meu encanto pavoroso
por silêncio e labirinto.
Ele engasga e treme,
como um pardal no ninho.
Estamos presos no mesmo poste de linchamento,
ouvindo rezas, bater de janelas, escápulas rangendo...
Cada palavra torta soa como pedra
lançada ao poço de dentro de mim.
23. HOSPITAL
Lugar onde a morte ronda
agachada e sorrateira,
como uma serpente emboscada.
Ouve-se na madrugada insone
o tropel de aladas bestas.
O balbucio dos terços
sem sentido,
entre os dedos.
E a incontinência urinária dos idosos
que pressentem anjos cegos
atrás das portas.
22. TESTAMENTO
Quando eu não tiver mais forças,
Quero ser a lembrança dos ipês floridos,
A doce trama das copas coloridas de amarelo,
Ornamentando uma parte do céu lavado,
Na agitação das abelhas
E na canção quase inaudível das águas.
sábado, 1 de abril de 2017
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