domingo, 10 de abril de 2016

3. DESPEDIDA

Tristeza que se reflete nos olhos de quem olha,
no espelho atrás da porta, pelo tempo carcomida.
Queria voltar atrás, quando nem sonhava a partida,
vestido de metais reluzentes ante a vista zarolha.

Alcei lanças de fogo contra o céu que me roubou a cena,
com as vestes empapadas de sangue das manadas
que atropelam virgens nos campos de flores envenenadas.
Fui longe, seguindo o curso dos rios, com trânsfuga pena

de adiar a sede e a dor do mundo, ladrar de cães
prometidos à minha morte, num abandonado matagal.
À beira da estrada, costurei feridas no meu hálito de sal,

esperando romper a aurora triste da partilha sem pães.
E aquele olhar me sangrou por dentro a gota do peso mau
derramado na face assombrada de um porto sem nau.

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