domingo, 10 de abril de 2016

2. ENGASGO



Esse poema, que me trai na ausência do verbo alado,
é pura sintonia fina da alma na insônia delirante.
Ele anda comigo, qual vício da bebida no silêncio alcoolizante,
e me recolhe no espasmo do dia trêfego e mal iluminado.


Eu busco a letra, a forma dilatada de um sol incessante,
impassível à pronúncia, baú hermeticamente fechado
ao pavor de asas coloridas - um sentimento emboscado.
É o vagir do nascimento ruidoso de extinta língua pulsante!

Esse poema que repousa no prato, qual comida intragável,
é a mariposa insone das minhas noites de chuva tropical,
cerceando o ar escuro na luz de um mar improvável.

Ele vem, qual banzeiro, quando ensimesmado paro de navegar,
e fala, quando inexiste boca, na sombra do clarão do esgar,
vomitando flores vivas no repasto da hora capital.

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