domingo, 10 de abril de 2016

1. RIO DE LÁGRIMAS



Eu fui o menino das águas turvas dos rios, da lágrima e do açoite.


Sobrevivi na lama e no lodo, nas entranhas da pútrida terra,

de onde ergui meu canto de lâmina que no corpo se enterra.

Sou testemunha que viu o rio chorando no fundo da noite.


Tantas vezes o vi o rio aportando na madrugada,

coroado de névoa branca, rangendo os dentes no frio.

Tantas vezes ergui o punho na sezão amarela desse rio

que me perdi nas veredas de uma estrada assombrada.


E quem não sentiu o abraço cálido de um rio não foi menino,

não chegou a deslizar nas águas turvas da chuva fina

e não se jogou do alto da árvore no vácuo da própria sina:


Esse um outro que miro torto no espelho da íris assassina

apenas deixou passar o tempo líquido na janela do destino,

morrendo de angústia desesperada que se dobra como um sino.

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