Eu fui o menino das águas turvas dos rios, da lágrima e do açoite.
Sobrevivi na lama e no lodo, nas entranhas da pútrida terra,
de onde ergui meu canto de lâmina que no corpo se enterra.
Sou testemunha que viu o rio chorando no fundo da noite.
Tantas vezes o vi o rio aportando na madrugada,
coroado de névoa branca, rangendo os dentes no frio.
Tantas vezes ergui o punho na sezão amarela desse rio
que me perdi nas veredas de uma estrada assombrada.
E quem não sentiu o abraço cálido de um rio não foi menino,
não chegou a deslizar nas águas turvas da chuva fina
e não se jogou do alto da árvore no vácuo da própria sina:
Esse um outro que miro torto no espelho da íris assassina
apenas deixou passar o tempo líquido na janela do destino,
morrendo de angústia desesperada que se dobra como um sino.
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