Meu dia envelhece comigo, enraizando calçadas
e ruas, alimentando cães e gatos,
protegendo os ninhos dos bem-te-vis.
Minha mesa é testemunha dos desvarios
em que a letra engole a letra e as palavras
emergem de um lago turvo de algas.
Meu poema chora com a mãe do infrator baleado,
se fere nas cercas farpadas do latifúndio,
e morre de frio debaixo das marquises.
As palavras que forjo são ríspidas e angulosas,
cortam as mãos e a língua dos homens,
atravessam os corpos como flechas assassinas,
e tombam cambiantes na espuma dos mares.
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