domingo, 20 de agosto de 2023

113. POEMA INCENDIÁRIO

Meu dia envelhece comigo, enraizando calçadas 

e ruas, alimentando cães e gatos, 

protegendo os ninhos dos bem-te-vis.


Minha mesa é testemunha dos desvarios

em que a letra engole a letra e as palavras

emergem de um lago turvo de algas.


Meu poema chora com a mãe do infrator baleado,

se fere nas cercas farpadas do latifúndio,

e morre de frio debaixo das marquises.


As palavras que forjo são ríspidas e angulosas,

cortam as mãos e a língua dos homens,

atravessam os corpos como flechas assassinas,

e tombam cambiantes na espuma dos mares.

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