sexta-feira, 12 de julho de 2019

80. POETAS SÃO COMO MENDIGOS

A imagem mais próxima dos poetas não é a dos burgueses,
limpos, bem vestidos, ao redor de comidas e bebidas finas.

Ninguém faz poema satisfeito consigo mesmo, cheio de plenitude.

Os poemas não vêm do céu, como querem os crédulos. Não existem musas, o poema não nasce de uma inspiração da alma.

Poetas são como mendigos de rua, maltrapilhos e famintos. Seus amigos são os cães abandonados das praças e seus quitutes estão no lixo dos mercados.

Não se faz poemas para acalentar, para adoçar os dias, para aliviar as dores. O poema não serve para nada, é inútil, por isso sobrevive.

O poema está nas valas, nos lixões, ao lado de ratos e urubus.

Cada palavra do poema representa uma lesão, um espinho, uma navalha.

Lavrar o poema é duro, áspero, como lavrar a terra. No chão das flores residem os vermes e a decomposição. 

Poetas lapidam versos com as mãos sujas.

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