quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

60. TOCAIA

No tropel invisível das mulas cardãs,

fruto doce, grito opaco, oco do sertão,

os cestos açoitados pelo olho do cão,

uma fala rouca na boca da manhã;


Não vi o tempo passar, bolando pelo chão,

o rifle apontado, coronha na espera vã

do queixal, sem pio de pássaro da hora sã,

o dedo seco, rogando o sinal da mão.


Um cheiro de besouro no ar purificado,

enquanto se contava as horas, esqueci

no leito do rio o silêncio santificado.


No torpor do sol onde canta o bem-te-vi,

desabei o corpo sujo no chão ressecado,

chorei mariposas, a morte não temi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário