terça-feira, 19 de dezembro de 2017

61. INVERNO

Havia certa glória na chuva, tristeza de beiral,

um sopro frio nos corredores da casa assombrada,

o silêncio de bois pastando longe, no cocal,

e o império dos mosquitos anunciando a invernada.


Aves singravam os ares para um destinol final,

tínhamos tempo, a estação da semente purificada

abria-se em flor no húmus fecundo da terra molhada,

e roupas não secavam mais, penduradas no varal.


Então esperávamos as chuvas de coração aberto,

contemplando a neblina esmaecida no horizonte incerto,

de mãos dadas com o frio que durante a noite viria.


Era tempo de ouvir o pio da coruja no telhado,

e as inhambus-chororó escondidas no capim molhado,

madrugada a dentro, até que despontasse um novo dia.



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