Se tivemos sonhos nesta grande passagem
foi porque assim nos permitiram a ventania das janelas,
as marés espumantes no casco, a vela acenando o adeus
de Alcântara, no porto soçobrando a infinita ladeira.
Se havia o que sonhar foi porque Deus
nos fez ilusórios, sedentos de amores passageiros,
ensimesmados no parapeito de um barco de travessia
onde o temido Boqueirão faz gemer as embarcações.
E os anos passam, como sóis nas solitárias praias,
circundando o verde e o azul das águas turvas
em algum lugar onde a torre de um farol desponta
e a memória dos náufragos se apaga.
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