terça-feira, 31 de dezembro de 2024

TRAVESSIA

Se tivemos sonhos nesta grande passagem

foi porque assim nos permitiram  a ventania das janelas,

as marés espumantes no casco, a vela acenando o adeus

de Alcântara, no porto soçobrando a infinita ladeira.


Se havia o que sonhar foi porque Deus

nos fez ilusórios, sedentos de amores passageiros,

ensimesmados no parapeito de um barco de travessia

onde o temido Boqueirão faz gemer as embarcações.


E os anos passam, como sóis nas solitárias praias,

circundando o verde e o azul das águas turvas

em algum lugar onde a torre de um farol desponta

e a memória dos náufragos se apaga.

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