Cada hora insone tem seu dia de chuva.
Cada torre tem seu dobrar de sino,
e cada alegria triste tem sua falta.
É bom andar nas ruas sem destino, o sol a contrapelo,
imune ao tempo de chumbo que derrete nas mãos.
Mãe, madre, pia, como dói a lembrança
da infância sem cura, do lugar vazio na mesa.
Foram tantos os silêncios e ranger de portões,
as janelas grandes abertas em par sobre os quintais,
como se as ventanias de agosto curassem todos os miasmas,
e as águas de janeiro lavassem todas as lágrimas.
Eu que ouvi todas as rezas no altar do Santo,
a vela oscilando no balbucio de piedosas senhoras.
Sempre soube que o amor vence o tempo
e ilumina a imensidão dos campos.
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