Há 51 anos, eu vim ao mundo nos teus braços,
no mesmo hospital onde hoje me desespero sem ar.
A cada passo na rampa que desce ao necrotério
sinto o mundo resvalando sob os pés.
Nos meus ouvidos ecoam gritos de pessoas entubadas
e nos corredores brancos desta casa de mortos
sinto o pulsar do meu coração de náufrago,
abraçado a ti, até o derradeiro instante.
Teu olhar sobre mim virou tatuagem:
é teu chamado para o "dom da fúria",
a luta feroz pela vida,
na derradeira hora da agonia.
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