sexta-feira, 5 de novembro de 2021

96. QUE EU POSSA SUPORTAR A DOR XXX


Há 51 anos, eu vim ao mundo nos teus braços,

no mesmo hospital onde hoje me desespero sem ar.

A cada passo na rampa que desce ao necrotério

sinto o mundo resvalando sob os pés.

Nos meus ouvidos ecoam gritos de pessoas entubadas

e nos corredores brancos desta casa de mortos

sinto o pulsar do meu coração de náufrago,

abraçado a ti, até o derradeiro instante.

Teu olhar sobre mim virou tatuagem:

é teu chamado para o "dom da fúria",

a luta feroz pela vida,

na derradeira hora da agonia.

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