Era noite, ela, urrando de dor, segurava um terço.
Meu pai fumava antes de entrar na sala de parto.
Dizem que chorei com estrondo,
tardei chegar, por isso não me chamaram Sebastião.
Era mês de chuva,
os campos alagavam os baixões de mururu.
O festejo alegrava a cidade, a notícia chegara da Ilha.
Houve algazarra, canoeiros brindaram a cachaça,
a parentada disse amém, quando o rádio avisou.
Minha mãe sofrera, assim como no primogênito.
Eu viera ao mundo grande e forte,
e olhava para o sol na janela aberta,
com um sorriso multiagudo no lábio de colibri.
De lá para cá, ouço o trotar de cavalos loucos na mente.
Uma brisa estranha sopra no meu peito,
que arqueja folhas secas do verão
e meus olhos rangem os dentes pro silêncio.
Vejo vultos informes nos corredores
e cães uivando longamente pro céu curvo e iluminado.
Desde que vim ao mundo é a mesma coisa:
revoada de pássaros
atravessando o lago triste do coração.
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