quarta-feira, 5 de agosto de 2020

87. DE MÃOS DADAS XXX

Não se preocupe, eu te escuto.

Não vou embora.

Não vou desistir de você.

 

Tá tudo escuro lá fora,

somente os gatos da madrugada rompem o silêncio.

A rua está deserta, exceto por alguém atrasado,

ansioso por chegar em casa

 

No alto do bairro, dá pra ver os telhados, lá em baixo.

O céu denso, nuvens grossas tapando a luz da lua.

 

Tua mão de parkinson ainda me abençoa,

mas já foi firme como aço,

desde os tempos das grandes jornadas

nas estradas e nos rios do sertão.

 

Você me manda embora, toda noite.

Eu espero, te olhando, em pé, com as chaves na mão.

 

Eu demoro um pouco, conversando coisas do passado.

Faço você rir, em lampejos de lucidez.

 

Tua raiva não faz mais sentido, não é real.

Nossa conversa é como uma pescaria paciente,

onde se espera o momento em que volta o peixe da consciência.

 

E depois do beijo e do abraço eu me vou.

Mas voltarei, sempre. Não haverá partida.

 


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