Não se preocupe, eu te escuto.
Não vou embora.
Não vou desistir de você.
Tá tudo escuro lá fora,
somente os gatos da madrugada rompem o
silêncio.
A rua está deserta, exceto por alguém
atrasado,
ansioso por chegar em casa
No alto do bairro, dá pra ver os
telhados, lá em baixo.
O céu denso, nuvens grossas
tapando a luz da lua.
Tua mão de parkinson ainda me
abençoa,
mas já foi firme como aço,
desde os tempos das grandes jornadas
nas estradas e nos rios do
sertão.
Você me manda embora, toda
noite.
Eu espero, te olhando, em pé,
com as chaves na mão.
Eu demoro um pouco, conversando
coisas do passado.
Faço você rir, em lampejos de
lucidez.
Tua raiva não faz mais sentido,
não é real.
Nossa conversa é como uma
pescaria paciente,
onde se espera o momento em que
volta o peixe da consciência.
E depois do beijo e do abraço eu
me vou.
Mas voltarei, sempre. Não haverá
partida.
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