segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

76. TRUPIADA

Eu fui o poeta que se perdeu no rio torto,
onde um papagaio amarelo bebe água
e a onça parda come um bicho morto,
na serra do urubu que a ravina deságua.

Eu derramei meu canto de flores sem horto,
as minhas lágrimas irrigando tanta mágoa,
sendo elas a tampa do meu caixão sem tábua,
a sina crua de um velório sem aborto.

Vivi cegando para as cobras do sertão
que também se escondem no orvalho do capim,
adiantei meu passo coxo na contramão.

Ouvi o tinir do ferro em talhe de facão,
vi a espora ferindo de lado o meu rim
e rompi a cruz de espinhos com meu alazão.

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