(Em memória de Flaviano Neto, líder do quilombo Charco,
em São Vicente de Férrer, assassinado em 30 de outubro de 2010, ainda impune).
Dia de receber a notícia da morte:
uma serpente que levanta a folha,
o escorpião oculto na terra zarolha,
o espinho de tucum vigiando a sorte.
Quisera saber que fora abraçado,
sem saber que a morte estava por perto,
um jaguar urrando no campo aberto,
sopro da brisa no rosto molhado.
E toda noite revivo a lembrança do morto,
aquele sorriso de sofrimento,
estampado na água do rio sem porto.
E ficou no ar gelado o aceno em vão,
a sineta no cordeiro imolado,
e o sangue do altar derramado ao chão.
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