sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

89. SEM MEDO DE MORRER XXX

Eu já temi a morte empastelada no chão
da casa, as abelhas no ouvido e nariz,
a dor roçando os móveis, recado de giz
tatuado no muro alvo do caramanchão.

A minha gata de olhos de cobre, em vão,
contemplando o jardim sujo, algo me diz.

De tanto escapar da morte por um triz,
hoje não temo mais me acabar no sertão.


Tenho um cavalo castanho na baia, esperando
arreio de bride, o terno de couro adornado

em fivelas, próprio para romper espinho.


Da minha janela, vejo o gavião no ninho,
carijó, bico recurvo, as crias demandando,

e eu na rede, com a morte sem cuidado.

 


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