(em memória de Zé Enedina, liderança rural de Araioses, assassinada em 19 de julho de 2014)
Ninguém se importa quando morre mais um Zé,
tanto mais o Zé que vigia o carnaubal,
envelhecido no cerrado, andando a pé,
onde foi morto de faca como um animal.
Ninguém pôde ouvir os gritos daquele Zé,
a não ser o rio, com suas águas de cristal.
E morto ficou, estendido, na sua fé,
o Enedina, à sombra da palmeira letal.
Mal sabia o algoz que matando desse jeito,
como testemunha das facadas no peito,
a floresta amaldiçoaria o assassino.
E para cada curva do rio Santa Rosa
há uma lembrança destemida e poderosa
daquele guardião que morreu no seu destino.
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