Aqui, onde o mundo se perde,
a saudade é como chuva fina,
perene de solidão e medo,
como lamparina em noite escura.
Aqui, onde me perco na penumbra
meus olhos iluminam a treva
e meu corpo triste é poeira ou névoa
na estradas do sertão.
Aqui, onde o mundo se perde,
a saudade é como chuva fina,
perene de solidão e medo,
Entre tantas, a dor do vazio sem fundo,
a dor dos ninhos abandonados nos beirais,
a dor espalhada nas estradas sombrias,
uma tatuagem no corpo.
E, por não me bastar o silêncio,
a dor vem acompanhada de memória,
vespas roendo o cérebro latejante,
como se o cérebro fosse uma manga madura.
Todos celembram o sol vermelho do sertão,
ele anuncia a florada na mata, a festa dos papagaios,
as extensas e infinitas revoadas no poente.
Eu quero celebrar a vida roubada
- dos homens e dos bichos - ,
a febre, o vômito e o espasmo,
mas também o voo triste dos guarás
por sobre a baía de São Marcos.