sábado, 16 de dezembro de 2023

120. CANÇÃO DA PARTIDA

E, pela vontade de Deus, quando eu partir,

um rugido de jaguar ferido ecoará

no fundo da floresta e ninguém saberá

dos gritos lancinantes que ainda se há de ouvir.


Pela minha ausência não haverá cantoria,

no horizonte verão pássaros em revoada,

cães tristes no terraço da manhã enlutada

e nos riachos não haverá mais pescaria.


Quando eu morrer, os cupins não sairão dos ninhos,

e as formigas, loucas, vão se perder nos caminhos,

enquanto meu corpo exale o cheiro de resina.


Adjunto ao caixão de cedro, uma lamparina

iluminará meus cabelos de brilhantina,

e o meu lábio entreaberto de rosas e espinhos.

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