terça-feira, 5 de abril de 2022

102. QUINTA MISSA DO LUTO

Quinto mês, desde que o céu oscilou e ruiu.

Tinha a crença estranha de que não chegaria

esse dia de fúria, na quinta lua de abril,

redemoinho de folhas e ventania.


Quinto mês de luto, imenso vazio,

de cigarra na chapada, e de noite fria.

A tristonha sina da chuva se cumpriu

e eu pressenti a onça rondando a coxia.


Só lembro que tive sede, mas não bebia.

Tive fome, porém, comer não conseguia.

Virei ossada branca na vereda empoeirada.


E foi um choro triste de cauã empoleirada,

antecipando a estiagem de cada dia.

Ele se foi sem saber que eu também morria.

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