quarta-feira, 23 de março de 2022

101. O CINCO DE NOVEMBRO

 Enfim o dia mais temido chegou.

Eu me transportava para outro lugar, distante do desespero,

uma forma de me manter lúcido e ativo.

Mas por baixo de meus pensamentos de lago congelado

havia milhões de loucos gritando dentro de uma jaula.


O ar rarefeito do quarto comprimia o pulmão, me fazia buscar janelas,

e eu não conseguia olhar nos olhos dela,  mãe inconsolada.

Eu senti a febre no último abraço, que esperava não ser despedida,

o adeus dos píncaros, o voo sonolento das águias

- salto para o abismo de enevoado despenhadeiro.


Hoje eu quero o silêncio, com sua água doce,

as nuvens oscilando no céu, a chuva torrencial dos dezembros azuis.

Agora, no vão da sala onde reside a cadeira de ferro enrijecida,

posso dizer o quanto a dor assombra e adoece.






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