sexta-feira, 23 de dezembro de 2022
104. PRIMEIRA IMPRESSÃO SOBRE AS CHUVAS
103. CHUVA DE NATAL
terça-feira, 5 de abril de 2022
102. QUINTA MISSA DO LUTO
Quinto mês, desde que o céu oscilou e ruiu.
Tinha a crença estranha de que não chegaria
esse dia de fúria, na quinta lua de abril,
redemoinho de folhas e ventania.
Quinto mês de luto, imenso vazio,
de cigarra na chapada, e de noite fria.
A tristonha sina da chuva se cumpriu
e eu pressenti a onça rondando a coxia.
Só lembro que tive sede, mas não bebia.
Tive fome, porém, comer não conseguia.
Virei ossada branca na vereda empoeirada.
E foi um choro triste de cauã empoleirada,
antecipando a estiagem de cada dia.
Ele se foi sem saber que eu também morria.
quarta-feira, 23 de março de 2022
101. O CINCO DE NOVEMBRO
Enfim o dia mais temido chegou.
Eu me transportava para outro lugar, distante do desespero,
uma forma de me manter lúcido e ativo.
Mas por baixo de meus pensamentos de lago congelado
havia milhões de loucos gritando dentro de uma jaula.
O ar rarefeito do quarto comprimia o pulmão, me fazia buscar janelas,
e eu não conseguia olhar nos olhos dela, mãe inconsolada.
Eu senti a febre no último abraço, que esperava não ser despedida,
o adeus dos píncaros, o voo sonolento das águias
- salto para o abismo de enevoado despenhadeiro.
Hoje eu quero o silêncio, com sua água doce,
as nuvens oscilando no céu, a chuva torrencial dos dezembros azuis.
Agora, no vão da sala onde reside a cadeira de ferro enrijecida,
posso dizer o quanto a dor assombra e adoece.
terça-feira, 18 de janeiro de 2022
100. MARCADO PRA MORRER
(Em memória de Flaviano Neto, líder do quilombo Charco,