sexta-feira, 5 de novembro de 2021

98. Que a dor não seja tão grande quanto a vida.


Há 51 anos, eu vim ao mundo nos teus braços,

no mesmo hospital onde hoje me desespero sem ar.

A cada passo na rampa que desce ao necrotério

sinto o mundo resvalando sob os pés.

Nos meus ouvidos ecoam gritos de pessoas entubadas

nos corredores brancos desta casa de mortos.

Sinto o pulsar do meu coração de náufrago,

abraçado a ti, até o derradeiro instante.

Teu olhar sobre mim virou tatuagem:

é o chamado para o dom da fúria,

a luta feroz pela vida,

na derradeira hora da agonia.

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