quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

90. MARÉ DE INFÂNCIA

Quando eu era apenas uma criança, meu nome
me soava estranho, como se não fosse o meu.
Diferente dos outros, só me comoveu
o mar, com sua fúria de jaguar com fome.

Quando eu era criança, chorava escondido,
no quarto escuro. Só um gato fusco viu
minha dor abafada, que nunca mais saiu
do meu peito, cais sem mar, navio perdido.

E toda vez que eu via o mar, sentia o chamado
do castelos de pedras, veleiro assombrado
singrando no meu peito, o sal lavando os pés.

Lembro da revoada de pássaros febris,
e de um sentimento  vago, pintado à gris,
esgarçando o horizonte de tristes marés. 

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