quarta-feira, 5 de agosto de 2020

89. DE MÃOS DADAS

Não se preocupe, eu te escuto.
Não vou embora.
Não vou desistir de você.

Tá tudo escuro lá fora,
somente os gatos no cio rompem o silêncio.
A rua está deserta, exceto por um skatista louco.
Ele sobe e desce a rua, treinando piruetas.

No alto do bairro, dá pra ver os telhados, lá em baixo.
O céu denso, nuvens grossas tapando a luz da lua.

Tua mão de parkinson ainda me abençoa,
mas já foi firme como aço,
desde os tempos das aulas de box.

Você me manda embora, toda noite.
Eu espero, te olhando, em pé, com as chaves na mão.

Eu demoro um pouco, conversando coisas sem sentido.
Faço você rir, em lampejos de lucidez.

Tua raiva não faz mais sentido, não é real.
Nossa conversa é como uma pescaria paciente,
onde se espera o momento em que volta a consciência.

E depois do beijo e do abraço eu me vou.
Mas voltarei, sempre.




 




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