sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

87. O JAGUAR NA CHUVA

Esperei a chuva de mãos dadas com o nada.
E ela veio, seminua, arrastando troncos
lodosos das margens dos rios. Seus roncos
ouviram-se no desvão oco da madrugada.

Enquanto minha mãe cobria os espelhos
e duas brasas rubras nos olhos do gato
eram o lampadário da casa no mato,
meus ouvidos buscavam o jaguar vermelho.

Meu sonho perdeu-se no estranho céu chumboso,
brisa que sopra nas redes avarandadas,
enquanto esperava o monstro silencioso

vir ao meu encontro de pupilas dilatadas,
menino do sertão, de pranto corajoso,
com um candeeiro de luzes apagadas.

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