Esperei a chuva de mãos dadas com o nada.
E ela veio, seminua, arrastando troncos
lodosos das margens dos rios. Seus roncos
ouviram-se no desvão oco da madrugada.
Enquanto minha mãe cobria os espelhos
e duas brasas rubras nos olhos do gato
eram o lampadário da casa no mato,
meus ouvidos buscavam o jaguar vermelho.
Meu sonho perdeu-se no estranho céu chumboso,
brisa que sopra nas redes avarandadas,
enquanto esperava o monstro silencioso
vir ao meu encontro de pupilas dilatadas,
menino do sertão, de pranto corajoso,
com um candeeiro de luzes apagadas.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
86.LEMBRANÇA FÚNEBRE
Ninguém soube o porquê da partida repentina,
não houve tempo sequer para a despedida;
Simplesmente desligaram você da vida,
como, de noite, se apaga uma lamparina.
Eu tive que engolir meu choro numa rede,
ouvindo ao longe o tristonho canto da coan;
na memória, badalando a esperança vã,
o tic tac alto do relógio na parede.
Fui contando as horas para o raiar do dia,
as abelhas anunciando a chuva espectral,
pois que me convenci dessa ruptura final.
Hoje ainda relembro os momentos de alegria,
um luto frio que nem chuva torrencial
não houve tempo sequer para a despedida;
Simplesmente desligaram você da vida,
como, de noite, se apaga uma lamparina.
Eu tive que engolir meu choro numa rede,
ouvindo ao longe o tristonho canto da coan;
na memória, badalando a esperança vã,
o tic tac alto do relógio na parede.
Fui contando as horas para o raiar do dia,
as abelhas anunciando a chuva espectral,
pois que me convenci dessa ruptura final.
Hoje ainda relembro os momentos de alegria,
um luto frio que nem chuva torrencial
lava, a casa grande, uma sala vazia.
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