Esperei a chuva de mãos dadas com o nada.
E ela veio, seminua, arrastando troncos
lodosos das margens dos rios. Seus roncos
ouviram-se no desvão oco da madrugada.
Enquanto minha mãe cobria os espelhos
e duas brasas rubras nos olhos do gato
eram o lampadário da casa no mato,
meus ouvidos buscavam o jaguar vermelho.
Meu sonho perdeu-se no estranho céu chumboso,
brisa soprando nas redes avarandadas,
enquanto eu esperava o monstro silencioso
vir ao meu encontro, de pupilas dilatadas,
menino do sertão, de pranto corajoso,
abafando o choro de tantas madrugadas.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
84. MARCHA FÚNEBRE XXX
Em memória de Celso Sampaio Gomes
não houve tempo sequer para a despedida;
Simplesmente desligaram você da vida,
como, de noite, se apaga uma lamparina.
Eu tive que engolir meu choro numa rede,
ouvindo ao longe o tristonho canto da coã
na memória, badalando a esperança vã,
o tic tac alto do relógio na parede.
Fui contando as horas para o raiar do dia,
as abelhas anunciando a chuva espectral,
quando me convenci da ruptura final.
Hoje ainda relembro os momentos de alegria,
um luto frio que nem chuva torrencial
Eu tive que engolir meu choro numa rede,
ouvindo ao longe o tristonho canto da coã
na memória, badalando a esperança vã,
o tic tac alto do relógio na parede.
Fui contando as horas para o raiar do dia,
as abelhas anunciando a chuva espectral,
quando me convenci da ruptura final.
Hoje ainda relembro os momentos de alegria,
um luto frio que nem chuva torrencial
lava, a casa grande, uma sala vazia.
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