segunda-feira, 16 de outubro de 2017

55. ESTÁTICA DO SILÊNCIO

No meu coração

deveria brotar árvores

e repousar ninhos.

Somente a estática das pedras e do chão

fazem o musgo, crescem raízes, criam as nascentes.

A vida emerge sem pressa e sem clamor.

As presas sobrevivem da inércia,

e da invisibilidade.

É na dormência dos remansos que habita o peixe,

e no rumor da brisa que soçobra a folha.

Como demoram afundar as raízes, 

como esperam as estações as flores e os frutos...

Os rebentos se geram sonolentos no ventre da mães,

os embriões dos ovos exigem chocas sem pressa.

Dentro da minha casca vive o silêncio.

54. PERTO DA CHUVA

Rumor de pedras conversando,

na beira do rio, musgo, limo e água.

A cada sussurro, um revoar de asas,

vespas, besouros, tiúbas e joaninhas.


Floradas. Cajus, manga, sapotis e azeitonas.

Grandes sombras de piquizeiros, jaqueiras,

com enfeites de pau d´arcos em flor.

O chão estala, range e racha,

lufadas de calor no rosto,

claridade seca, luz faiscando a retina.


O sol vermelho, bola de fogo lisa,

cravada no céu curvo, desmaiando

sobre árvores tortas, em transe, desfolhadas,

e, forrando o chão, sementes, sementes...

domingo, 15 de outubro de 2017

53. CARRASCO

Cada sol vermelho ardendo no céu,

árvores tortas, calor  vespertino.

Brandindo o chocalho, a tarde desce o véu,

e, triste, o mugido oco, o grito do menino.


Vão-se os pássaros sem destino, 

sobre mourões farpados, favos de mel,

queima o fogo no olho da cascavel

e ruge a fornalha no sol a pino.


Um fartume de cinza queima o rosto,

o zunir de cigarras sem recosto

que pousam na sombra do piquizeiro.

 
O suor derrama no chão a contragosto

e o aço das mãos queima no formigueiro

a sina furiosa do boi vasqueiro.