No meu coração
deveria brotar árvores
e repousar ninhos.
Somente a estática das pedras e do chão
fazem o musgo, crescem raízes, criam as nascentes.
A vida emerge sem pressa e sem clamor.
As presas sobrevivem da inércia,
e da invisibilidade.
É na dormência dos remansos que habita o peixe,
e no rumor da brisa que soçobra a folha.
Como demoram afundar as raízes,
como esperam as estações as flores e os frutos...
Os rebentos se geram sonolentos no ventre da mães,
os embriões dos ovos exigem chocas sem pressa.
Dentro da minha casca vive o silêncio.
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
54. PERTO DA CHUVA
Rumor de pedras conversando,
na beira do rio, musgo, limo e água.
A cada sussurro, um revoar de asas,
vespas, besouros, tiúbas e joaninhas.
Floradas. Cajus, manga, sapotis e azeitonas.
Grandes sombras de piquizeiros, jaqueiras,
com enfeites de pau d´arcos em flor.
O chão estala, range e racha,
lufadas de calor no rosto,
claridade seca, luz faiscando a retina.
O sol vermelho, bola de fogo lisa,
cravada no céu curvo, desmaiando
sobre árvores tortas, em transe, desfolhadas,
e, forrando o chão, sementes, sementes...
na beira do rio, musgo, limo e água.
A cada sussurro, um revoar de asas,
vespas, besouros, tiúbas e joaninhas.
Floradas. Cajus, manga, sapotis e azeitonas.
Grandes sombras de piquizeiros, jaqueiras,
com enfeites de pau d´arcos em flor.
O chão estala, range e racha,
lufadas de calor no rosto,
claridade seca, luz faiscando a retina.
O sol vermelho, bola de fogo lisa,
cravada no céu curvo, desmaiando
sobre árvores tortas, em transe, desfolhadas,
e, forrando o chão, sementes, sementes...
domingo, 15 de outubro de 2017
53. CARRASCO
Cada sol vermelho ardendo no céu,
árvores tortas, calor vespertino.
Brandindo o chocalho, a tarde desce o véu,
e, triste, o mugido oco, o grito do menino.
Vão-se os pássaros sem destino,
sobre mourões farpados, favos de mel,
queima o fogo no olho da cascavel
e ruge a fornalha no sol a pino.
Um fartume de cinza queima o rosto,
o zunir de cigarras sem recosto
que pousam na sombra do piquizeiro.
O suor derrama no chão a contragosto
e o aço das mãos queima no formigueiro
a sina furiosa do boi vasqueiro.
árvores tortas, calor vespertino.
Brandindo o chocalho, a tarde desce o véu,
e, triste, o mugido oco, o grito do menino.
Vão-se os pássaros sem destino,
sobre mourões farpados, favos de mel,
queima o fogo no olho da cascavel
e ruge a fornalha no sol a pino.
Um fartume de cinza queima o rosto,
o zunir de cigarras sem recosto
que pousam na sombra do piquizeiro.
O suor derrama no chão a contragosto
e o aço das mãos queima no formigueiro
a sina furiosa do boi vasqueiro.
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