domingo, 26 de março de 2017
18. PROFANAÇÃO
Longo murmurar dos vinhedos causticantes
assombram as mulas do destino cansadas
e roubam o sono de almas penadas
no estio noturno dos bichos claudicantes.
Dentes de cristal fazem tremer arvoredos,
Lua de prata ilumina cemitérios de meninos,
uivos órfãos fazem badalar os sinos
e trombetas ocas soam tristes arremedos.
Vou chegando a esmo na montaria cega,
varando a escuridão rubra dos girassóis mortos,
exalando o etílico bafo de mil sentinelas.
Chegarei recitando versos de poetas alados e banidos,
para o espanto soturno de milhões de morcegos peregrinos,
ao tempo em que adormeço ao coro dos anjos de bronze.
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