domingo, 22 de janeiro de 2023

105. CAMPANÁRIOS

 Que absurda saudade varre as ruas tortas da cidade,

tantas buzinas afugentando pardais nos telhados portugueses,

tantos meses trançando anos em fios de órgãos das catedrais,

os terços rezados nos missais da aurora tardia

fazendo brotar soluços, pruridos, chorume e lágrima.


E a lembrança opaca dos canteiros abandonados nos jardins

estende seus longos braços pelos corredores de casas velhas,

de grossas paredes em ruínas, de janelas quebradas, 

e muros caídos, revelando as entranhas dos quintais adormecidos.


Eu quero minha saudade para sempre comigo, 

como se fosse um cobertor nos dias de chuva,

uma rede na varanda, de frente para o Largo dos Amores,

um veleiro de empanada colorida na Baía de São Marcos, 

uma insana barca cortando o mar para Alcântara.




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