sábado, 26 de agosto de 2017

52. PESCARIA DE VERÃO


Meus pensamentos ficaram boiando no rio.
Eram lembranças de remansos largos,
debaixo de galhadas tortas no céu liso de agosto.

Era algazarra de pássaro, derradeiro papagaio
voando para casa, cortando o horizonte vermelho.
Em redor, a luz se recolhendo nas copas...

Eu mesmo deixei de ver certas coisas,
o chão marcado de cascos, os peixes nas locas.
De ver pouco, ouvi, apenas. Bugios e grilos.

Quando soou um berro, triste, do fim do dia,
acompanhei a sineta dos bodes, perfilados,
na trilha onde no final algum galo cantou no terreiro.







domingo, 20 de agosto de 2017

51. AGOSTO

Agosto é o mês que inspira cuidados no sertão.

É o tempo das cobras, que saem para vadiar,

é o tempo dos cachorros loucos e outras coisas tais...

Mas por entre os punhos da rede entrevejo o céu,

no azul sem nuvens, cortado por andorinhas.

Ouço os bem-te-vis destruidores de ninhos

e o ruflar das varandas me anestesiando o sono.

O gato malhado ressonando no tamborete,

sempre vigiado pelo calango, não inspira confiança...

O fato é que tanta preguiça 

não tem nada com o mês de agosto...

E eu não vou reclamar, depois de comer tanto

- prefiro o ranger das escápulas.

50. SENTIMENTO

Nunca pude olhar nos olhos da tristeza.

Ela sempre fugiu de mim, envergonhada...

Sou testemunha imune dos anos felizes,

e da mansidão do tempo, 

correndo como água do córrego.

Nunca entendi profundas mágoas,

grandes e indisfarçados ressentimentos,

porque estive com os pés na areia fina,

ou trilhei veredas sombreadas.

Não me convidem para festas,

onde se é obrigado a falar por falar,

e os cumprimentos obedecem rituais bisonhos.

Eu prefiro a luz do sol, o perfume do sal,

e longínquas barcas no horizonte.