quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017
13. POEMA DA GUERRA
Poema-presente para Alberto Tavares, Defensor Público no Estado do Maranhão.
Quem se levanta por trás das trincheiras do mundo?
Enquanto o dia apodrece nas palafitas da cidade/canina,
A coragem falta nos homens silenciados pelos tratores,
A dor passa despercebida e naturalizada nas calçadas
e pés descalços repousam no asfalto quente.
Quem se levanta para incendiar a fala?
Quando todas as portas estão fechadas
e ninguém ouve o choro reprimido de vergonha,
tudo desabando nos casebres da periferia,
a chuva destronando sóis de esperança.
Onde houver a mão do afago e do punho
o direito brota como chama ardente por sobre o frio
e a ciranda da vitória adentra a casa dos desvalidos.
12. CHUVA
Chuva significa terra fofa
esperando a semente
onde era incêndio e laje.
Chuva traz a relva e os frutos coloridos
para a beira das estradas.
As folhas gotejantes expulsam brotos
no silêncio das noites molhadas.
Os caminhos sinuosos se estreitam
e apertam na fartura dos cipós.
Os currais enlameados
cheirando a estrume e urina,
guardam bezerros tristonhos
de frio.
Nuvens de mutucas atacam
sedentas de sangue quente.
Homens escuros de chapéu
remam compassadamente e observam
o suspiro das curimatás
e o mimigado dos peixes graúdos.
Tempo de chuva
o dia transcorre em gotas
no intervalo das águas dormentes.
Queimamos o grito na garganta
para atravessar o rio
e falamos com a voz macia
enquanto as trevas ardem na fogueira.
11. CARNAVAL
Acordar planando nas partículas suspensas
Da chuva deixada pela noite cortada
Por trovões e coriscos espectrais.
Enrolado no pano de sol estendido no chão batido,
Madrugando na temperatura mais caída da manhã,
Ouvindo o ressonar dos corpos,
A tristonha acauã, o agudo ladrido de cães
E o revoar de papagaios sobre os cocais.
O borbulhar dos peixes no remanso
e a explosão das águas nas cabeceiras,
E o revoar de papagaios sobre os cocais.
O borbulhar dos peixes no remanso
e a explosão das águas nas cabeceiras,
Os cardumes enlouquecidos
pelas chuvas torrenciais de fevereiro.
E assim revirar o tempo dos insetos famintos,
As lacerações das ervas daninhas,
O lamaçal das veredas tortas e sujas,
Esquecendo as frutas coloridas no chão de capim
Que serão mais tarde devoradas por um tapete vermelho de quatis.
E não cronometrar as horas é como andar descalço
No fundo de areia alva dos rios.
pelas chuvas torrenciais de fevereiro.
E assim revirar o tempo dos insetos famintos,
As lacerações das ervas daninhas,
O lamaçal das veredas tortas e sujas,
Esquecendo as frutas coloridas no chão de capim
Que serão mais tarde devoradas por um tapete vermelho de quatis.
E não cronometrar as horas é como andar descalço
No fundo de areia alva dos rios.
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