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Ouvi passar o ano rumoroso tangendo as águas do rio.
Era tudo meu - e arrastado, no doido tinir do sino,
a chuva perene cobrindo o horizonte frio -
enquanto enterrávamos os órfãos à sombra do destino.
Cada passo no caminho abria uma ferida no vazio
e fazia cair gotas trêmulas quem nem o amargo do quinino
sobre a febre temporã. Eram milhares de bestas no cio
cavalgadas em pensamento, tropel de louco peregrino.
Mais um ano foi-se embora, afugentado por ferozes cães
que ladeiam as veredas sinuosas de flores amarelas.
Na acidez da chuva que enterra a triste saudade das mães
haveremos de sumir como touro tresmalhado no mundo,
camuflados nas sombras da madrugadas pias e singelas
por onde espreita a serpente no coração profundo.
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