quarta-feira, 2 de novembro de 2016

8. FLORESTA

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Tinir de ferros na chapada.
É hora do choro dos órfãos 
embalado por cigarras enlouquecidas de sol.
Hora do suor, do vazio da fome canina.

Perto do silêncio das coisas, resíduos de sertão e de árvores tortas.
Revoar de asas, onde a vista não alcança, espanto de onça acuada,
passos na folhagem, tremor de brisa, lufando nos pelos.

É hora de lutar, o cutelo enlutado espera.
Virão eles com a promessa de recriar o grito da Inhuma
e de refazer a água nos córregos secos.

Eles já estão vindo, os cães podem sentir o fartume do óleo,
as formigas se desesperam nas trilhas onde os fungos morrem.
Motores roncam para que as aroeiras cedam lugar à soja.

Longe, é possível ouvir o estalar dos troncos,
gemidos de floresta clamando. 

Como vagidos de criança.

7. DIA DE FINADOS

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Entre um rio e uma palavra existe um vão de coisas...
Elas correm no tempo como folhas tangidas nas correntezas,
algumas se perdem nas profundezas outras seguem caminho.
O rio e a palavra choram.

Quero esquecer da palavra...
Quero ser folha, furtiva e lânguida
nas corredeiras de um rio do sertão.

Um dia eu me encontro com ela,
prisioneira de um remanso qualquer,
onde se fundem raízes e folhas.

Entre um rio e uma palavra haverá a fusão das coisas,
caminhos de pedras ásperas, pios de aves incandescentes.
O rio e a palavra choram na minha presença.