quinta-feira, 13 de junho de 2024

127. DEPOIS DA CHUVA

É na hora do café da tarde que a saudade aumenta.
Mesa posta, a agenda com atalhos curtos,
que desmbocavam na ternura do aroma, no timbre da voz.

Muito mais do que perder um simples hábito,
é esse longo vácuo depois da chuva,
semeando a tristeza dos pardais nos muros.

De madrugada, na hora de Miguel Arcângelo,
o peito asmático se comprime na lembrança,
como pontadas agudas na UTI dos sonhos.

E já no mês de junho as chuvas insistem, 
tocam um piano melancólico nos beirais
e tangem o frio para dentro da minha rede.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

126. MISSA DO TRIGÉSIMO DIA

De passagem pela casa, não há mais jardim,

apenas as folhas no terraço de vento.

A lembrança dos meus passos de cimento

ecoa sem as flores por dentro de mim.


Certo que derramo ainda os rios de pranto,

e que replanto os vasos abandonados

pelo tempo: trinta dias já são passados.

Quero a luz que me ficou no derradeiro espanto


de te perder no aço da longa caminhada,

sem que fossem as minhas súplicas ouvidas

no desespero da mão entrelaçada.


Queria mais tempo, mais calor da chegada,

mais abraços de reconciliações repetidas,

o aceno insistente no portão da entrada.