sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

91. MEDO DE MORRER

Eu já temi a morte empastelada no chão
da casa, as abelhas no ouvido e nariz,
a dor roçando os móveis, recado de giz
tatuado no muro alvo do caramachão.

A minha gata de olhos de cobre, em vão,
contemplando o jardim sujo, algo me diz.
De tanto amar o mato, o espinho por um triz,
hoje não temo mais me acabar no sertão.

Tenho um cavalo castanho na baia, esperando
arreio de bride, o terno de couro adornado
em fivelas, próprio para romper espinho.

Da minha janela, vejo o gavião no ninho,
carijó, bico recurvo, as crias demandando.
Por que teria com a morte algum cuidado?