quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

FELIZ ANIVERSÁRIO


Na dúvida se estás vivo ou morto
eu prefiro esquecer teu dia
não cutucar memórias
testemunhadas pelos rios do sertão.
Eu me recuso a crer no afago
nesse abraço delicado das correntezas
que soçobraram em remansos frios
nos sobrados do peito ardente.
Tantas vezes que ainda me reencontro
nas florestas da vida, na descrença completa
de flores que ornamentam o túmulo
e me fazem vivo tão provisório como um pássaro.
Online

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

TEMPO DE CHUVA

Nas manhãs chuvosas de janeiro

o céu da Ilha perde a claridade

as ruas parecem tristes e abandonadas

e os bem-te-vis deixam de cantar.

As velas dos barcos acenam da baía

para um depressivo Cais da Sagração

de onde se avista o mar de gelatina opaca.

Nas manhãs chuvosas de janeiro

as formigas criam asas e sobem os muros

e árvores gotejam sonhos adormecidos.

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

TRAVESSIA

Se tivemos sonhos nesta grande passagem

foi porque assim nos permitiram  a ventania das janelas,

as marés espumantes no casco, a vela acenando o adeus

de Alcântara, no porto soçobrando a infinita ladeira.


Se havia o que sonhar foi porque Deus

nos fez ilusórios, sedentos de amores passageiros,

ensimesmados no parapeito de um barco de travessia

onde o temido Boqueirão faz gemer as embarcações.


E os anos passam, como sóis nas solitárias praias,

circundando o verde e o azul das águas turvas

em algum lugar onde a torre de um farol desponta

e a memória dos náufragos se apaga.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

ITINERÁRIO DO CORAÇÃO

 Cada ano passa como um murmuroso esvoejar,

e ouvimos vozes nos corredores escuros, passos

que se alongam nos dias e dias a se perderem de vista.

Cada ano passa como manadas de cavalos,

melancólico tropel em nuvens, ventanias

que rodopiam em folhas, depois em chuva.

Eu finjo me manter forte no leito das águas

mas meu pranto é reovada, grito no horizonte recurvo.

A cada passagem - que me dizem ciclo da vida -

morrem os nossos, descem as cordas e tocam os sinos

e nenhum sinal de que merecemos ficar

como pedra de sal no coração amargo.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

XANGÔ

Esse vento que sopra dos meridianos

e faz gemer o ferrolho das janelas,

tangendo no céu o tapete das estrelas,

traz folhas vivas dos cemitérios acadianos


para dentro das casas como revoadas

de meninos. Essa claridade das frestas

que resplandece em azulejos de funestas

ruas (onde faiscam nas altas fachadas


partículas de sol e augúrios de sereias)

é como um grito que atravessa a baía

para ecoar nos Lençóis de alvas areias.


Esse urro de touro/jaguar na chuva fria

é meu entardecer de pássaros sem cadeias,

é meu vodum de prata na lua que me guia.



domingo, 13 de outubro de 2024

128. PRAIA GRANDE XXX

 PRAIA GRANDE

Esse vento que sopra dos meridianos
e faz gemer os ferrolhos das janelas
traz folhas ainda vivas para dentro de casa,
como se fossem revoadas de meninos.
Essa claridade dos raios de luz nas frestas
que nos convida a andar nas ruas tortas
resplandece nas pedras do chão
e nos azulejos das fachadas piedosas.
Esse grito que atravessa a baía
e faz assento onde a terra recua na ilha
foge com os pássaros do entardecer,
e se confunde com as águas do mar.

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